quinta-feira, 10 de julho de 2014

A Plenitude do Tempo

Em um trono de ferro enferrujado,
Além da mais longínqua estrela do espaço,
Eu vi Satã sentado sozinho;
Velha e abatida estava sua face,
Pois seu trabalho estava feito e ele
Descasava na eternidade.

E para ele, de dentro do sol,
Veio seu pai e amigo,
Dizendo: "Agora o trabalho está feito
A inimizade chegou ao fim".
E levou Satã
Para o Paraíso que ele conhecia.

Gabriel, sem expressar reprovação;
Uriel, sem a lança;
Rafael, cantarolando;
Todos saudando seu amigo e par,
Sentaram-se ao lado de
Alguém que tinha sido crucificado.

James Stephens, poeta irlandês.

sexta-feira, 28 de março de 2014

A Grande Descoberta

Abro os olhos e vejo que está chovendo. Estou no beco, sozinho e completamente molhado.
Mais um dia de angústias se anuncia.
É manhã de terça... Ou quarta?... Não sei!
Meu estômago reclama. Começo então a revirar o lixo a procura de comida; em meio aos dejetos abandonados pela sociedade busco minha sobrevivência, após algum tempo, ironicamente, encontro.
Alimentado – se é que assim posso dizer – procuro um lugar para descansar e me proteger do frio. Uma caixa de papelão que, aparentemente pelas figuras nela contidas abrigou um fogão, será por enquanto meu abrigo.
Agora em minha nova “casa”, um pouco aquecido e tremendo menos, me perco em meus pensamentos: vislumbro uma mesa cheia de gostosuras, uma casa quentinha e bonita, alguns passarinhos cantando e um raio de sol se esforçando para atravessar as cortinas no intuito de me tocar...
Um pingo me desperta...
A chuva umedeceu o papelão, rolo para um pedaço seco do papelão e esforço-me na tentativa de recuperar meu pensamento, quero minha mesa, minha casa, meus passarinhos, meu sol... Em vão! Terei que enfrentá-la!
Cansado de todo este padecer outro pensamento toma conta de minha consciência, mas agora não é fictício. É real, mais uma vez me questiono.
Qual será o motivo disso tudo?
Será que sou o resultado de uma sociedade fracassada, na qual, seus governantes mantém um quadro histórico-social de desníveis, onde poucos são favorecidos e a grande maioria, iludida com os grãos de milho que lhes são lançados, se entorpece e aceita este tipo de quadro, não demonstrando insatisfação, que indubitavelmente a faria tomar uma atitude melhoradora, reformadora, renovadora?
Ou será que sou um produto dos meus próprios atos?
Será que nunca observei claramente a situação, e também iludido escondo-me, como uma tartaruga em seu próprio casco, não tendo iniciativa e não tomando atitudes de melhoria, ficando entregue a uma auto-inatividade e, como muitos, fingindo não conhecer a resposta – mesmo a conhecendo – ergo, assim, brados em direções diversas, tentando achar um culpado para aquilo que eu mesmo criei?
Oh, D’us! Foram tantas as noites e os dias vendo as pessoas passarem, e delas ouvindo coisas do tipo:
_ Ah! Que nojo.
Ou então:
_Ah! Por que ninguém toma uma atitude quanto a isso.
Mas ninguém nunca me ergueu a mão. As pessoas preferem virar o rosto e fugir enojadas, a se preocuparem comigo; por isso até hoje estou assim, com fome, molhado, e dentro de uma caixa de papelão...
De repente ouço gritos.
_ “Ali, ali”.
E acredito conhecer as vozes que surgem de repente em meio à chuva e ao caos urbano.
_ “Ali, dentro da caixa de papelão”.
Realmente as conheço.
São eles. Jovens desumanos que se divertem comigo, abusando de minha incapacidade de reagir!
E então ouço o grito que para mim significa - “fuja”.
_ “Mata”.
Tento correr, mais estou fraco, e logo sinto aquela dor forte na barriga ocasionada por um chute que um dos jovens me dá. Rolo e gemo. Imploro para eles pararem, mas parece que eles não conseguem compreender o que digo e continuam em sua investida mortal contra mim. Não posso ficar aqui, devo correr, pois se fico será o meu fim.
No meio de minha fuga desesperada, e do ataque ensandecido dos jovens, latas de lixo são atiradas ao chão, e as poças d’água formadas pela chuva perdem sua limpidez, tornando-se finalmente coerente com o quadro geral daquele fétido beco.
Como por um milagre consigo me esconder, de meu esconderijo vejo meus algozes praguejando e me procurando. Demora algum tempo, mas, cansados e sujos em meio ao lixo, eles desistem de minha procura e se vão.
Agora estou fraco, ferido, sangrando e me interrogo por que não os enfrentei, talvez por algum milagre eles alcançassem seu objetivo finalizando de uma vez todo esse padecer.
Mas isso já não importa. Espero mais alguns minutos e saio de meu esconderijo, devo achar um lugar seguro para descansar e tentar curar os males que me causaram.
E foi aí, nesse instante de dor e medo, numa tentativa instintiva de sobrevivência, que o mundo com toda a sua incoerência me deu a resposta pela qual há muito almejava, e que tanto me parecia inalcançável.
Ao sair de meu esconderijo passo por um espelho quebrado... Olho meu reflexo... E descubro...
Sou um rato.

Filitus Lux

terça-feira, 4 de março de 2014

Equação da vida feliz

"Deus geometrizou !"
Pitágoras

A lógica reina em todo o universo de acordo com o pensamento pitagórico logo, deve haver um sistema, uma fórmula, para se chegar a dita felicidade; porque então é tão difícil encontrar a danada!?

Talvez o termo felicidade careça de definição, talvez a felicidade não seja algo em si mas, uma resposta do indivíduo aos estímulos externos, portanto, a felicidade estaria "dentro" apenas aguardando uma chave, um gatilho. Também precisamos considerar o que tem para nós valor, e atribuir valor é algo só nosso, só humano. Nesse momento de fim de ano somos por muitas vezes acometidos daquele desejo de fazer planos para o novo ano, é como se procurássemos algum novo valor, que fosse superior aos outros, para trazer mas felicidade para nossas vidas mas, miramos um horizonte melhor com base nos mesmos valores.

Não seria pois o caso de mudarmos o foco e deixar nossa mente livre para encontrar novos estímulos?

Se considerarmos a felicidade apenas uma resposta nossa aos estímulos externos então, muito provavelmente, a encontraremos em algum "lugar" ainda não experienciado. Vale também lembrar o benefício de viver novidades, de sair da "zona de conforto" aprendendo coisas novas, o desafio é benéfico à mente, mantendo-a jovem, claro que tudo deve ser feito com decência e ordem.

Vamos então a um novo ano, em busca do que existe e não existe.

Michel Figueira, FRC. 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Avante Bombeiros

Recentemente tenho sido compelido a escrever sobre minha leitura da heráldica do símbolo do glorioso Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro; cabe esclarecer que esse é um execício particular de simbologia, não sendo a versão oficial adotada pela corporação.

Todos conhecemos grupos que se denominam fraternidade, irmandade, religião e tantos outros onde seus membros se tratam por irmãos; isto posto o que dizer de uma organização denominada corpo, onde cada um de seus integrantes é membro do mesmo; a partir daí já podemos vislumbrar a abrangência do ideal ético deste grupo.

Vamos ao execício livre da heráldica do áureo e rubro pendão.



A tocha, é símbolo do fogo em movimento, da vontade, do desejo de cumprir o dever, a missão; símbolo do amor e dedicação ao ideal ético do Bombeiro; simbolo também de conhecimento, demonstra que o bravo soldado do fogo não recua ante o perigo, utilizando-se de técnica e coragem no cumprimento de sua nobre missão.

Os machados cruzados simbolizam a natureza áspera do trabalho, o fato de serem um par simboliza também que um Bombeiro nunca está só, sendo sempre auxiliado e protegido por seus companheiros.

A mangueira tem esguichos em ambas as extremidades simbolizando a lei do retorno, o perigo a que se expõe o bravo no cumprimento do dever, bem como sua disposição em cumpri-lo onde quer que se apresente.

O escudo demonstra o amparo e apoio dispensado pela corporação aos seus valorosos homens e mulheres, simboliza também o amparo de Deus na sua sagrada missão.

A estrela, símbolo da vida e de seu ciclo, evoca o sacerdócio que é a carreira de Bombeiro-Militar que, mesmo convivendo com a mais dura realidade, não endurece seu coração, cumprindo sempre com amor seu dever para com o cidadão.

A essa briosa corporação minhas mais sinceras homenagens, meus mais profundos agradecimentos e minhas mais caras aspirações.

vitae alienam et bona salvare

Por Michel Figueira, FRC
3° Sgt BM Q00/98