segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A Mosca Azul

     Meus irmãos, a Paz seja conosco.

     Hoje pretendo falar de algo que é relativamente comum nos movimentos esotérico-espiritualistas, a armadilha de sentir-se mais preparado, mais sábio que o outro. O tempo de afiliação a um grupo não significa exatamente que somos mais capazes e preparados para as vicissitudes do que um irmão recém chegado, significa tão somente que talvez tenhamos nos familiarizado mais com as práticas e cultura daquele grupo ao qual estamos afiliados; por vezes somos procurados para tratar de assuntos particulares, pessoais ou delicados, nessa hora devemos ter em mente que somos tão humanos e estudantes quanto nosso irmão aflito, é preciso manter os pés no chão e entender que estamos todos no mesmo nível, nunca nos portar como aquele que conhece o caminho, que tem as respostas, lembremos que a humildade é característica das grandes almas, lembremos também que geralmente só é necessário deixar que nosso irmão fale, aliviando assim seu sofrimento.



     É preciso ter em mente que na humildade residem a força e eficácia do trabalho espiritual, não no tempo de afiliação a alguma instituição, não nos títulos e/ou diplomas por ela expedidos, não no cargo ou função que se ocupa, não na bela retórica, não na teoria dos livros ou nas palavras dos eruditos, nem tão pouco na pseudo sabedoria; disse o Mestre Jesus, o Cristo, conforme registrado no evangelho de São Mateus, no versículo 29, do capítulo 11: " ... aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas." Não nos deixemos ser picados pela mosca azul, quanto mais se aprende, tanto mais se é cobrado; um engano muito comum após alguns anos de caminhada espiritual é acreditarmos que estamos imbuídos de alguma missão salvadora, do título de defensor da sabedoria ou da tradição, é triste constatarmos que temos a necessidade de apontar nossos próprios méritos, ou o que acreditamos serem méritos; nessas ocasiões podemos ser enredados pelo canto da sereia e num rompante de grandeza até devanearmos; esse meus amados é um dos maiores perigos na senda da espiritualidade e o primeiro que se apresenta quando se alcança um nível mediano de ascensão dentro de uma instituição espiritualista.

     Acautelai-vos meus irmãos da lisonja, ela plantada no nosso coração vai corromper todo um trabalho até então realizado, e comprometer o restante da caminhada; manter os pés no chão, saber de onde viemos e ter o olhar fixo no objetivo de servir a Deus são precauções que podem livrar-nos de muitos constrangimentos.


Frater Cognitor

domingo, 24 de dezembro de 2017

Então é Natal !!!

Republicado, publicado originalmente aqui no blog em 24 de dezembro de 2011.


Então é natal, a festa cristã . . .
Ops, peraí, mas várias religiões tem comemorações especiais em dezembro, no entanto, o que se comemora, se é o nascimento de um deus, a vitória sobre um inimigo ou, a morte de um ditador, não faz muita diferença; o que interessa é que todas essas celebrações indicam algo de especial nesta época, algo que facilita a harmonia ou rearmonização entre os seres, o que quero é indicar a sabedoria mais uma vez implícita no cotidiano, enquanto o comércio se aquece, as pessoas estouram seus cartões de crédito, e as crianças aguardam seus brinquedos; a vontade de estar com as famílias e rever as pessoas com as quais não temos convivido insinua-se, por menos que nos foquemos objetivamente nestes pensamentos eles teimam em vir à tona, por vezes nos surpreendemos de súbito imaginando como seria bom poder estar algumas horas a mais, talvez no próximo ano, com tal ou qual pessoa e é aí que reconheço a sabedoria do Eterno nesses acontecimentos, imagine que seria da sociedade se não houvesse essa breve pausa para valorizar os contatos afetivos, sejam eles familiares ou de amizade, antes de se iniciar um novo ciclo, um novo ano. Já virou até anedota as resoluções de fim/início de ano, emagrecer, gastar menos, praticar mais atividades físicas, deixar de fumar, deixar de beber e tantas outras; há também aquelas das quais nem nos damos conta de que fizemos e, sem dúvida, entre elas está sempre estar mais junto da família; sim, acredito que essa também não será cumprida, mas pouco importa, na verdade o importante é que ainda se valoriza os laços, e assim ainda temos raízes, pessoas a quem admirar, a quem prestar contas, por quem lutar e se manter num bom caminho.



Quero invocar as bençãos do Deus Único sobre a tua vida hoje, elas trazem consigo a Paz dos inocentes e a coragem dos competentes, brilhe dentro de ti o archote do amor divino para que sejas luz e referência no mundo, tua simples presença trará consolo e alívio ao sofrimento alheio, tua palavra será bálsamo e refrigério. Receba neste natal uma guarnição de fiéis companheiros que acamparão ao teu redor porquanto tu és filho do Altíssimo!
Assim seja!

Obs.: Sim o Natal é uma festa cristã, não é a única festa em dezembro mas é exclusivamente cristão.

domingo, 27 de agosto de 2017

Alchimicus vitam



     Sabe aquele dia que em que tudo se encaixa? Os amigos se encontram por acaso, as boas notícias chegam em abundância, parece que o cheiro do pão fresco ficou no ar até a hora do almoço. Pois é, acontece pra todo mundo, lógico, para alguns mais que para outros, taí! Será que conseguiríamos de algum modo aumentar a frequência desses dias nas nossas vidas? Pasmem, a resposta é sim, sim conseguiríamos. Mas como? Bom, antes de revelar este "segredo" dos sábios permita-me pontuar alguns aspectos importantes:

     1º- nesta terra nossas vidas jamais terão 100% de dias assim, porquê? Porque nossas existências aqui têm o objetivo de preparar-nos e essa preparação sempre envolve alguma resistência, voltaremos a falar disso adiante;

     2º- independente de quanta resistência ofereçamos individualmente, existe uma necessidade de se trabalhar o coletivo, portanto, a resistência de nossos irmãos sempre trará um atraso coletivo;
     
"... no mundo tereis aflições, mas tendes bom ânimo, eu venci o mundo"
Jesus, o Christo. Evangelho de São João 16:33.

     Esse pequeno excerto do texto bíblico sintetiza bem o antigo segredo dos sábios, vamos então desvelá-lo. Por conta dos aspectos comentados no parágrafo anterior compreende-se que teremos "aflições" na forma de desafios, temores e dúvidas, no entanto, o Messias, que sempre ensinou pelo exemplo, emenda: "- tende bom ânimo, eu venci o mundo." O não ter bom ânimo é o resistir, o ceder aos maus pensamentos é resistir, porquê resistir? Porque causa uma resistência à evolução inexorável que se procede em todo o universo.

“Aqueles que não aprendem nada sobre os fatos desagradáveis de suas vidas, forçam a consciência cósmica que os reproduza tantas vezes quanto seja necessário, para aprender o que ensina o drama do que aconteceu. O que negas te submete. O que aceitas te transforma. “
Carl Gustav Jung

      Não é a primeira vez que temos a oportunidade de falar dessa técnica por este canal, mas depois de um trabalho belíssimo do qual tivemos a honra e satisfação de participar hoje, resolvi ser um pouco mais enfático e específico neste particular, portanto eis a técnica: viva a vida de forma leve, não espere grandes acontecimentos nem para melhor nem para pior, as grandes alegrias estão nos pequenos detalhes; mantenha uma visão otimista, não busque o que rebaixa a moral, quem procura acha; seja sempre educado e pacífico, não se perde nada em ouvir a argumentação alheia; não emita tua opinião, salvo se solicitada, necessária e se for promover o progresso, em boca fechada não entra mosca; não entre em batalhas desnecessárias, porém não se omita ante a injustiça, para que o mal vença bastar que os bons cruzem os braços; pratica mais o ouvir que o falar, por isso dois ouvidos e apenas uma boca; cumpra com os compromissos assumidos, o combinado nunca sai caro; não recue ante o desafio, mas planeje antes do primeiro passo; se o que pensa em fazer não pode ser de conhecimento ostensivo, não faça, só os tolos trazem vergonha sobre si; se puder ajudar ajude, se não puder não atrapalhe, quem não vive para servir não serve para viver; agradeça, a gratidão é a virtude das almas nobres.

     Como podemos observar são atitudes simples, mas o viver franco, sem reservas mentais, preconceitos e ansiedades nos põe em harmonia com as forças mais construtivas do universo e por afinidade atraem o que há de mais suave e agradável para nossa curta passagem por esse plano de existência.

Frater Cognitor

sábado, 26 de agosto de 2017

Cegueira acerca de si

     Em recente debate com alguns irmãos pudemos discorrer sobre o orgulho e a vaidade, na ocasião sugeri que buscássemos os aspectos positivos de tais sentimentos, como podem imaginar não foi dos exercícios mais fáceis. O orgulho é mais suave de tratar por esse ângulo visto que é definido nos mais populares dicionários da língua portuguesa como sendo o sentimento de dignidade pessoal, brio ou altivez antes de entrar nas definições pejorativas do excesso de estima e admiração próprios, portanto, o orgulho pode ser algo legítimo, algo que nos move a realizar bem aquilo que devemos ou nos propomos a desenvolver.




     A vaidade foi um desafio, até porque sua definição no verbete já começa assim: qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória. Valorização que se atribui à própria aparência, ou quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais, fundamentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros. E não melhora, então é convencionado que a vaidade é algo a ser evitado. Então eis o desafio, descobrir em que a vaidade pode nos auxiliar no nosso cotidiano, sugeri que a vaidade pode ser aquele desejo de fazer algo que seja admirado pela coletividade, de valor reconhecido. Discorremos por esses meandros mas constantemente vinha à tona um assunto interessante, como é comum nós não conseguirmos nos ver a nós mesmos, visualizando muito facilmente o defeito do próximo e não conseguindo ver em nós o mesmo equívoco; no versículo 4 do capítulo 7 do livro de Mateus, da Bíblia consta um texto muito interessante, nele o autor pergunta como pode você querer tirar o cisco do olho do teu irmão sem antes tirar a trave que está no teu próprio olho, no versículo seguinte, o de número 5, o evangelista admoesta com veemência para que antes de retire a trave do próprio olho para então ajudar ao irmão, por fim, no versículo 6 o autor ensina: "- Não dê aos cães o que é sagrado, nem jogue pérolas aos porcos ..." Ou seja, não convém trazer as pérolas da sabedoria sagrada aqueles que são cheios si, de orgulho e vaidade, como costumo dizer, argumentar com tais pessoas é como jogar xadrez com um pombo, ele derruba todas as peças, caga no tabuleiro e sai voando de peito estufado como que com orgulho de sua obra.

     Concluo assim que, conforme o que consta no livro de provérbios, no versículo 3 do capítulo 20: "Sábio é para o homem desviar-se de questões, mas todo tolo é intrometido." Ou seja, se nosso irmão se sente cheio de sabedoria, não haverá para nós jamais a oportunidade de alertá-lo para sua tolice porque seu coração está cheio de certeza e confiança no seu próprio mérito, o que o torna cego sobre seus limites, e mesmo sobre seus erros, conseguindo ver sempre uma causa externa para qualquer possível fracasso; como tenho insistido, cabe ao peregrino da Luz Maior tão somente o trabalho sobre si e o silêncio, principalmente sobre as virtudes que acredita ter e os defeitos que consegue ver no outro. Lembro que nossos textos aqui servem tão somente para compartilhar ideias e reflexões, não cabendo a nós buscar enquadrar qualquer pessoa nos exemplos aqui existentes.
Frater Cognitor

domingo, 9 de julho de 2017

Conhece a ti mesmo

     A busca, porque realizá-la? Tive oportunidade de entender que, o simples fato de buscar indica que reconhecemos em nós alguma deficiência, o que por si só já é o início de uma caminhada para algum tipo de evolução. Podemos empreender essa busca por diversos caminhos, e quando digo caminhos refiro-me às diversas linhas de pensamento (religiões, filosofias, fraternidades ...) com todas as diferenças que podemos notar claramente entre elas, existem pontos chave em que se consolidam entendimentos bastantes semelhantes, senão idênticos. Em algum momento encontraremos o Centro, a Verdade, o Summum Bonum, o Pai; e esse encontro é a razão última da busca.

 
     Nessa senda que leva à Luz Maior encontramos vários outros viajantes, e aqui, ao contrário do parágrafo anterior, não falo dos sistemas religiosos ou filosóficos estabelecidos, mas do que interiorizamos a partir deles; por vezes imaginamos viajar a mesma viagem, mas esse é um caminho solitário, ainda que percorramos trechos juntos nunca teremos companhia por todo o trajeto, e mesmo esses trechos serão pequenos e raros. Nesses momentos devemos ter dois cuidados especiais, o primeiro é o de não pretender influenciar esse companheiro com nossas interpretações; o segundo é o de não nos deixar influenciar por sua interpretação e eloquência, por mais que pareça clara e racional. Dados os diferentes níveis de evolução espiritual, obviamente, a clareza e profundidade das compreensões serão díspares, por vezes até conflitantes. Saber o momento de deixar um companheiro de viagem é algo indispensável e por vezes aprendido a duras penas, é sempre bom lembrar que não se mede o nível de evolução espiritual de outrem em nenhuma situação, principalmente considerando quanto tempo tem de engajamento à instituição A ou B, se leu o autor C ou D, se escreveu o texto E ou F, ou ainda se realizou a cerimônia G ou H. Portanto cabe ao viajante avaliar somente a si, considerar seus motivos, suas necessidades, sua satisfação, sua paz e principalmente sua fé no caminho que tem percorrido.
     Tenho convicção de que na busca pelo auto conhecimento conquistaremos não só o auto domínio, mas também a capacidade de viver em harmonia com nossos irmãos ainda que nossas ideologias sejam radicalmente diferentes, o que em tese trará uma época de paz e fraternidade para esse mundo em transformação.

▽Frater Cognitor▲

segunda-feira, 19 de junho de 2017

À vida, do começo ao fim do começo, ao fim do começo, ao fim do começo

do Éter para o denso

do universo para o olho.
do olho para a mente.
da boca para o ouvido.
do papel para o silício.

de alma para alma
Tudo aqui, eternamente agora.
a ciência não é o que se descobre,
mas o que se pensa e, principalmente,
o que se sente sobre o descoberto.



viver é aprender a sentir.
sentir sentido no que se vive.
a condecoração não faz o herói.

o título é apenas suporte.
o livro é apenas suporte.
o texto é apenas suporte.
C6H12O6 é apenas suporte.

a vida está no sentimento;
no movimento;
no inquietamento diante do inexplicável ...

é saber que não se sabe.
é viver que não se cabe.
é amar que não se mede.

...

frater Cognitor

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Sê como tu é (maturidade)

     Algum tempo atrás tive a oportunidade de escrever neste blog sobre o que a vida espera de nós, responsabilidade, ultimamente estive pensando que não poderemos ser responsáveis se não tivermos maturidade; não falo aqui da maturidade de nos acharmos velhos ou dignos de algum respeito, assim como não falo da responsabilidade imputada ou responsabilização, mas sim da obrigação moral que sentimos de responder pelas nossas próprias ações quando atingimos a maturidade, ou seja, a compreensão de que não passamos de um vapor que aparece por um pouco, e logo depois se desvanece.
     Essa maturidade é muito interessante, ela nos liberta das preocupações com o status, com o julgamento alheio, com a aparência e com os problemas que não existem; ultimamente tenho falado muito desse assunto, todo problema tem sua solução, seja ela difícil ou fácil, se você consegue pensar num problema insolúvel, então o que tem em mente simplesmente não é um problema, mas sim um fato; então o que fazemos com fatos? Bem, com fatos convivemos, da melhor maneira possível, e seguimos a vida a pesar deles; essa compreensão é prova de maturidade; pensemos nos atletas pára-olínpicos, perfeitos exemplos do que é a compreensão da diferença entre o problema e o fato.
     É esse tipo de maturidade que devemos perseguir, a maturidade capaz de tornar cada um de nós como o menino, aptos a encararmos um novo dia, um novo desafio, aptos a nos surpreendermos com algo, a experimentarmos o que a vida tem a nos oferecer; a nos machucarmos no caminho mas não nos determos por isso no processo de auto descoberta do nosso lugar no mundo e do nosso mundo no lugar, o menino sabe intuitivamente; o processo de tolhir o "olhar" analítico, de adequar o comportamento, de alocar aquele indivíduo num nicho da sociedade mina paulatinamente a capacidade de ser e deixar ser quem se é.
     Ele está aí, esse menino interior, apenas aguardando o momento de explorar a vida e rir do que se entende e do que não se entende.

Paz Profunda!
Michel Figueira