domingo, 22 de dezembro de 2013

O eixo é foco !

Penso que a vida é tão curta; ontem era um garoto, brincando, correndo, saltando; repentinamente me encontro já saudoso das tardes de conversas desinteressadas, dos piques, das doces frutas da estação colhidas e comidas no "pé".



Refletindo mais profundamente, acredito que o foco é o eixo da vida; temos nossa vida sempre orbitando o que focamos. Quando crianças tudo é pra nós novidade, focamos em conhecer o mundo, nunca pomos nossa atenção nos perigos ou no que gostaríamos de proteger, estamos buscando a diversão as amizades, isso é bom. Mas o tempo passa e já não temos tantas coisas nesse mundo para descobrir, passamos a observar e preservar mais o que já temos, aí aparecem as angustias, afinal, essa via é uma vapor que aparece e logo se desvanece.
Tenho feito uma experiencia e dela, colhido bons frutos. tentem comigo, por uma semana no mínimo focar na cor do teu carro, ou do carro do vizinho, caso tu não tenhas; não quero que entendas com isso que te sugiro ficar olhando o carro mas sim, ter em mente aquela cor, verás quanto ela lhe aparecerá, aparentemente, mais vezes durante o dia, em roupas, muros, filmes; de quebra, perceberás quando findares teu experimento que, uma série de preocupações não estão mais lá, simplesmente porque mudastes deliberadamente o foco um pouquinho.
Digo uma semana no mínimo porque a mente objetiva precisa de treino, disciplina, perseverança e, o corpo físico precisa de tempo pra responder ao estímulo psíquico, ao menos nas "primeiras" tentativas.

Aguardo aqui, nos comentários, os relatos dos resultados obtidos pelos amigos que se dispuserem a realizar comigo essa experiência.

A Paz !!!

domingo, 15 de dezembro de 2013

O caibalion


(ritmo)

"- Da vida o ciclo segue a variante -
assim falou-lhe o mestre sapiente -
que oscila eterna e rigorosamente
do zênite ao nadir, sempre constante.

- da natureza a lei mais atuante,
que manifesta está tão claramente,
revela um movimento permanente 
entre os pólos opostos, todo instante.

- e o verdadeiro sábio compreende,
que este fluir contínuo independe
de todo e qualquer tipo de atitude.

- sendo preciso apenas pra findar-se
o seu efeito, a mente concentrar-se
da neutralização na fortitude."

drol redaj

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Eu sou . . .

Eu sou aquele a quem devias ter amado,
Sou quem te protegeu do infortúnio,
mesmo quando esquecido e desprezado.

Eu sou aquele a quem devias ter ouvido,
Sou quem te alertou para o perigo,
mesmo quando sufocavas o meu grito.

Eu sou aquele a quem devias ter seguido,
Sou quem te falou ao pé do ouvido,
mesmo quando meu falar foi reprimido.



Agora, no derradeiro instante,
longe dos títulos e praxes,
Há de conhecer-me face a face.

Reconhecer-me em ti
para no esplendor renascer
Assim enfim saber . . .

que:

Sou teu Eu.


Frater Cognitor.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Quem, pois, uniu a rosa à cruz?

(J. W. von Goethe)

Quem deu ao ser humano o pensamento
que se elevar a mente persuade?
Quem fez crescer non peito o sentimento
que lhe instigou à busca da verdade?

Quem rege do viver o movimento
que nos conduz do todo à unidade?
Quem faz nascer o puro entendimento
que nos concede, enfim, a liberdade?

Quem é este secreto e grande nume,
que o peregrino segue, e cujo lume
na câmara secreta 'inda reluz?

Que há tanto inspira e guia a nossa raça,
nos ofertando a mais sublime graça...
Quem, pois, uniu a rubra rosa à cruz?


Drol Redaj

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Liberdade Última

quando a sublime luz do claro dia
partindo se despede vagarosa,
num calmo entardecer que prenuncia
o repousar da força numinosa.

a mente fraca teme, e se angustia,
pois crê que a noite densa e rigorosa
tenha findado a chama que luzia
na vastidão eterna, esplendorosa.



contudo a mente forte, o ser desperto,
que do temor da noite está liberto
se nega ao insensato padecer,

pois sabe que naquela imensidão,
da noite a mais intensa escuridão,
precede o glorioso amanhecer...

Drol Redaj

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

De que tens se ocupado?


Queridos a Paz! Hoje vamos falar um pouquinho sobre a Pré - Ocupação, eita ! Você viu como tudo fez sentido?

Se estamos preocupados, estamos ocupados com algo antes ou, precocemente ou, antes da hora.
Tenho de estudar para a prova de amanhã! Isso é preocupação. Legítima? Sim. Mas, se tivéssemos nos ocupado de aulas, trabalhos, exercícios e etc, provavelmente não necessitaríamos de preocupação com um teste ou prova, assim também podemos viver, ocupando-nos de cada coisa ao seu tempo, lembra ?

Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.(Mt 6:34)

Com isso podemos chegar a concluir que se nos ocupamos do que é preciso hoje, necessário hoje então, o amanhã não haverá de nos preocupar. Essa passagenzinha do Evangelho de Mateus é riquíssima em conteúdo de cunho prático para pronto emprego, nos desperta para o simples viver como forma de alcançar tranquilidade, aquela leveza do ser, vejamos Mateus 6:31 a 33:


Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

Veja como Jesus não negou a necessidade de comer, beber ou vestir mas, pôs cada coisa no seu lugar, é, ele devia ter conhecimento de algo chamado stress, síndrome do pânico, transtorno bipolar, patologias relacionadas a uma vida vivida além do agora, além de nossa área de ação; o tempo do Senhor, o ano aceitável do Senhor, estas são nada mais nada menos que referências ao agora. Na prática aplicamos assim: se está no horário de almoço, almoce, sinta o sabor, o aroma, veja a apresentação, descubra o prazer desse momento único. Se está no ônibus, indo trabalhar, observe as pessoas, os locais por onde passa. Nosso equipamento biológico tem melhor desempenho nesse espectro (agora, já, now, aqui). Sim, podemos utilizar certas técnicas para nos libertamos das predominâncias materiais mas, geralmente com a finalidade de obter conhecimentos para aplicação no agora pois, os seres encarnados devem evoluir no agora, se assim não fosse estaríamos, sem dúvida, em algum lugar onde seríamos mais úteis, acreditem nas sábias palavras de Eistein: "- Deus não joga dados." e claro se é recomendável que façamos tudo com decência e ordem (1Co 14:40) Ele, o Grande Arquiteto, deve ter agido da mesma forma desde o princípio.

Namastê - 


*Republicação, Texto publicado originalmente neste blog no dia 1º de outubro de 2010.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A cultura do excesso


      Algo que todos percebemos mas, geralmente não nos damos conta objetivamente é a influência da cultura na individualidade; neste texto quero abordar mais de perto a cultura do excesso, claramente adotada e veladamente imposta pelo modelo de mercado capitalista bem como, sua influência no indivíduo de forma holística; esse modelo prevê crescimento de lucro um período após o outro sempre, é fácil perceber essa mesma filosofia na vida do indivíduo, nosso próximo carro deve ser mais potente, confortável, bonito e, claro, caro que o anterior; nossa festa de réveillon mais incrementada, com comidas e bebidas importadas e mais farta que a do ano passado; é comum escutar alguém dizer que em determinada festa haverá a oferta de muitas caixas de cerveja, de muito churrasco e outros excessos que são imediatamente entendidos como algo desejável, porém voltemos nossa atenção para o modelo de mercado, toda produção é baseada na exploração de recurso natural em algum grau, como uma fábrica de garrafas plásticas por exemplo, ela adquire o plástico para as máquinas injetoras, no entanto, esse é produzido a partir do petróleo, um recurso natural limitado; fica claro que em algum momento haverá uma estabilização na produção por conta da escassez de matéria prima e que logo se seguirá uma queda, sabemos ainda que a industria tem outros meios de aumentar seu lucro, dentre eles a desoneração do processo produtivo pela substituição de mão de obra humana por automatizada, otimização do aproveitamento de energia e outros porém, a base da cadeia ainda é o recurso natural. Essa filosofia aplicada ao indivíduo também sofre de limites, e esses são sentidos muito mais drasticamente que no exemplo dado, no exemplo das muitas caixas de cerveja oferecidas, imaginemos quantas dessas caixas serão consumidas pela pessoa que fez o comentário. Uma pessoa apenas não consome uma única caixa! Que diferença faz então quantas serão oferecidas? Esse excesso, do consumo de álcool, todos sabemos a que consequências leva; sabemos como afeta a família, principalmente a relação entre pais e filhos; há também o outro lado da necessidade subconsciente do supérfluo, a violência, muitos furtos, roubos, e latrocínios são perpetrados para a obtenção de bens e valores que tem como única finalidade promover status, a causa disso é a percepção de que valemos o que os valores materiais que possuímos. Nesses tempos acelerados, onde movimentos revolucionários fazem alusão à paz, e movimentos pacíficos fazem alusão à revolução, Nossa atenção, inevitavelmente, volta-se para o equilíbrio, o caminho do meio; o caminho do meio não significa resignação perante a agressão gratuita, entretanto, também não significa a prática da violência cega, animalesca. Aí reside um dos maiores mistérios da vida moderna, até onde manter uma postura serena, tranquila, pacífica? Ou, quando parar de gritar, bater, reclamar, protestar?
      Tão nocivo quanto o excesso na reivindicação é o excesso na complacência, o mistério reside no método e medida da ação a ser empregada, o indivíduo sente a necessidade imposta pelo "consciente coletivo", vê-se abrigado a estar em conformidade com o pensamento e a ação de sua época, a sabedoria está em usar seu próprio livre arbítrio, ter sua própria leitura dos atos e fatos.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A vida é assim


A vida é assim
Hora quero o que tenho
Hora tenho o que faço
Difícil é ter o que quero

Sábio é saber o que fazer
Fazer o que se quer
Aguentar o que vier
Tolice é fazer e esquivar

O tolo faz e foge
Mal sabe que não se pode
Do mal que fez tornar

O sábio faz e fica
Conhece o bem que pratica
E sabe esperar

Michel Figueira, FRC.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Chave Ieroglífica



Entendimento? Louco contraproducente.
Sabedoria? Bacharel imprudente.
Conhecimento? Doutor consciente.
Prática? Mestre independente.

Se está entendendo, não compreendeu.
Se está concordando, se comprometeu.
Era religião? Pra quem entendeu.
Ciência então? Quem se submeteu.

A vida eterna jamais começou.
Se tu vive buscando.
É porque já encontrou.
Frater Cognitor.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O que a vida quer de nós ?


Essa é uma boa questão, sem dúvida ela já passou pela nossa cabeça algumas vezes ao longo da vida; geralmente quando temos uma decisão importante a tomar, daquelas que talvez mude o rumo de nossas vidas, passa pela cabeça: "será que é isso que quero pra minha vida?" ou então: "será isso que Deus quer de mim?". Particularmente eu gosto da seguinte sentença: O QUE A VIDA QUER DE NÓS? Gosto porque não limita a resposta a uma religião ou filosofia, porque abrange todo ser pensante no universo.

Tu sabes o que quer a vida de ti ?

Provavelmente descobriremos que cada um tem uma demanda pessoal na vida mas, se tivesse de arriscar uma só resposta, diria: Ela quer dignidade. Não uma postura sisuda, séria, carrancuda perante os fatos, muitas vezes corriqueiros do cotidiano, mas aquela dignidade do sábio, como na história de Sidarta Gautama, o Buda, quando este diz: "Meu milagre é: se tenho fome, como; se tenho sede, bebo; se tenho sono, durmo." Que dignidade incrível há nessas palavras! A dignidade a que me refiro é aquela de passar pelas vicissitudes da vida com leveza, com desapego, com a convicção de que a alegria vem pela manhã, principalmente quando essas vicissitudes advêm de decisões, atos ou omissões nossos, deliberados ou não. Os pratos da balança da vida estão sempre tendendo para um lado ou para o outro, cabe ao indivíduo decidir se quer deixá-lo para um ou outro lado, entretanto, o equilíbrio também pode ser buscado; em inúmeros casos, na esmagadora maioria mesmo, não cabe a ninguém além do próprio operador avaliar o valor de cada decisão; pode ajudar-nos a encontrar essa dignidade lembrar que a felicidade é um estado de espírito e que as mazelas são inerentes à vida na terra; vejamos um exemplo prático, digamos que saí de casa, com meu carro, para o trabalho e, que no caminho ele enguiçou; vou ficar chateado, querer brigar com o mundo? Eu tomei a decisão de sair com o carro, carros quebram, pneus furam, eu assumi o risco. Nessas horas não se lamentar, chatear e/ou murmurar é difícil mas, uma postura tranquila, serena, digna muda o nosso "astral", a postura adequada também é uma escolha, como tive a oportunidade de dizer numa postagem recente, não há a obrigatoriedade de se desesperar como a cultura contemporânea veladamente determina. O sábio vive a vida, ele não precisa prever os imprevistos pois, eles sempre estarão lá, se houver um problema haverá uma solução.
Caminhemos pois dignamente, assumindo a responsabilidade pelos riscos a que nos expomos e vivendo da melhor maneira os fatos que se apresentam perante nossos pés.

Em Paz Profunda somos, frater Cognitor.

"O homem é feito visivelmente para pensar, é toda sua dignidade, e todo o seu mérito, e todo o seu dever é pensar bem."
Blaise Pascal (filósofo, físico, e matemático Sec XVII)

domingo, 28 de abril de 2013

Retorno . . .


Um velho peregrino caminhava
Por entre estradas ermas e sombrias,
Do firmamento as luzes contemplava
Na solidão daquelas noites frias.

Sozinho os pensamentos elevava
Buscando reviver antigos dias,
Quando a visão humana desvelava
Da nona esfera as altas harmonias.

E quando enfim chegou o grão momento
De receber o vigoroso alento
Que os mestres do saber tanto buscaram.

O velho peregrino retrocede,
E à mente universal, sorrindo, pede:
"- Deixai-me ir buscar os que ficaram..."

Drol Redaj

Obs.: agradeço por mais essa contribuição e confiança do nosso frater que é depositário das obras desse antigo mestre.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Cristo e Ogum dançando "soltinho"


Esta é uma postagem antiga, do blog oclaustrodeefrata.blogspot.com.br, do nosso grande irmão Luiz Fernando Brites, aproveitando a data republico-o e colho o ensejo para agradecer ao Luiz ter nos autorizado.



Estava eu no Centro Cultural Carioca, em um evento de dança de salão. Comigo estavam minha mulher, meu compadre e comadre mais dois amigos. Todo mundo dançando à beça, pedindo música, riscando o chão... Enquanto eu, que não danço lhufas, estava a construir uma pirâmide mística de latinhas de Brahma sobre a mesa, a fumar igual uma caipora e a divagar, tentando me achar naquele evento que sinceramente, não tinha nada a ver comigo! Só pra que se tenha uma noção, eu comecei a fazer análises epistemológicas de músicas como "Tô nem aí", de Luka (Putz, eu fiquei pensando: como alguém pode fazer uma música pra outra pessoa e logo em seguida dizer que não pensa nela, que "agora tá em outra"?). Eu sei, exagerei... Mas é que o tédio estava me revirando! Então surgiu a pérola que me valeu a noite. Na voz de Zeca Pagodinho:
- Eu sou descendente Zulu, sou um soldado de Ogum. Devoto dessa imensa legião de Jorge...


Aquilo me arrepiou, senti uma profunda reverência por Jorge, Ogum e afins.


Aonde eu quero chegar com isso? Pois então, a religiosidade. A maioria esmagadora de nossa população é religiosa por assim dizer, professa algum credo, segue alguma doutrina religiosa. E nós, os pensadores, filósofos, místicos, iniciados, magistas e etc? Ah, nós somos uma elite que estamos acima disso... Ou pela razão, ou pelo nível de "espiritualidade", nos libertamos da religiosidade que escraviza. Uns dizem ser o ópio do povo, outros o embotamento da realidade; outros vão além: trata-se de velhas formas de se relacionar com sagrado, ou por evitar um criador antropomórfico ou por viver em ditames de novos ciclos e aeons. O fato é que religioso virou sinônimo de supersticioso, atestado de pouco alcance intelectual, algo pejorativo entre a elite espiritual de nossa gente. Santa ignorância! O sentimento de religiosidade está no patamar das coisas que nos diferenciam dos outros animais, é algo inato. É também uma faculdade de apreciação, similar à percepção do belo, da música ou a lógica aritmética. É uma forma única de lidar com exposições numinosas da realidade imanente e transcendente (eita, baixou o Jung aqui...), alternativa em relação ao modo que analisamos os assuntos ordinários. Isso será clarificado mais adiante.


Algo parece fundamental nisso tudo: buscar compreender a imanência e a transcendência das experiências. De cunho pessoalíssimo, essa análise deve ficar a cargo de cada indivíduo, mas cindir esses dois aspectos é muito perigoso. Um exemplo disso: estava conversando com minha mãe quando Aline (irmã), ao passar por mim, me chamou de louco. Foi imediatamente repreendida:
- Não faça isso, está em Lucas (capítulo x, versículo y...): é réu do fogo quem chama seu irmão de louco!
Instantes depois estavam comentando sobre uma fulaninha da rua...
- Aquelazinha? Sai com todo mundo...


E eu pensei com os meus botões: chamar de puta pode, "louco" que é pecado.
Percebe? Uma fé onde a imanência sumiu é totalmente dependente do que transcende. Uma fé sem elasticidade, que implora por decretos e mediadores a todo instante, liturgias e sacerdotes, profetas e sacrifícios de sangue. Mas Cristo e Jorge ainda fizeram grandes contribuições para estes relatos...

Na primeira segunda-feira de março, eu saí de serviço. Após trinta e poucas horas de ermo saí para resolver algumas coisas e buscar minha mulher e minha filha, que haviam dormido na noite anterior na casa de meu sogro. Tinha ido somente com o dinheiro da ida para o trabalho, então procurei um caixa eletrônico para sacar uns trocados. Os cartões não passaram. Rodei todas as agências da Vila Militar, nenhuma quis me liberar um vintém! Uma até prendeu meu cartão por demorados trinta minutos; até que um camarada, acometido de bom-mocismo me apareceu com um alicate. Enquanto isso chovia bicas. Algumas moedas em meu bolso chegavam ao total de um e cinquenta, o valor de um ônibus promocional que passava a cada trezentos anos por ali. Aguardei como um iogue. Fui até a Pavuna. Rodei todas as agências de lá. Nada. Quando passei em frente à Igreja da Matriz, decidi entrar. Jorge queria estar comigo e eu fui até ele. Senti uma grande emoção ao estar ali, ajoelhei-me. Senti-me impelido a prestar culto, mas muitas ponderações antecederam... Seria Jorge de fato Ogum no sincretismo? Na Bahia é Oxossi... Mestre das forjas ou um combatente? Não se deve ignorar a razão, mas saciá-la. Pensei que a Imago já havia passado por outras condensações, que estava como devia estar naquele momentum. De joelhos curvei minha fronte:
- Salve Jorge, aqui estou!
- Peleja ao meu lado esta noite. Caminhemos juntos sob a chuva forte, como quem marcha para o combate. É preciso derrotar um dragão.
- Assim será feito Comandante.
Levantei vestido com as roupas e as armas de Jorge, ele galopava ao meu lado, eu ao solo como infante que sou. Após decidir marchar, alguns conhecidos me gritaram dos ônibus que passaram ao largo, como uma tentação para desistir de peregrinar. Com o auxílio de meu fiel Capitão, fui até minha casa. No fim, um carro com aqueles típicos decalques evangélicos: "Os humilhados serão exaltados". Sincrônico. Ao chegar ajoelhei-me novamente e agradeci pela vitória.

Dias depois algo muito intenso aconteceu, voltei a falar com uma pessoa que há quinze anos se quer nos olhávamos, mantendo uma relação de raiva e desprezo. Venci meu orgulho, fui até ele e o abracei. Houve recíproca. Nesse instante vi Jorge tombando o dragão que perseguimos aquela noite. Salve Jorge da Capadócia!

Tá aí: Por todos que deixam o Espírito Santo sair de seus corações e habitar em linhas frias, bem como o supra-sumo do pedantismo dos que guardam o sagrado em frascos, o monge se mantém na cela, e pede aos céus piedade pelos extremados; mas por todos que vivem a religião de suas almas, que são abertos a santidade do agora, para quem pede e quem destina o perdão, as abadias ficarão vazias e frias, a viúva se casará, o guarda britânico sorrirá, o celacanto virá à praia!

Ogum (Zeca Pagodinho)

"Eu sou descendente Zulú
Sou um soldado de Ogum
devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre

Sim vou à igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou no terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça firmo ponto sim senhor
Eu canto pra Ogum
Ogum
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais
Ogum
Ele vem de Aruanda ele vence demanda de gente que faz
Ogum
Cavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da paz
Ogum
Ele nunca balança ele pega na lança ele mata o dragão
Ogum
É quem da confiança pra uma criança virar um leão
Ogum
É um mar de esperança que traz a bonança pro meu coração
Ogum."


D'us dos fortes e dos fracos, perdão pelos pecados, pela ironia e pelo neologismo. Assim Seja!

- Saravá Mundo Cão!!!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Mágico caminho


pé ante pé
Fé sempre fé
peregrino viajante

dor, calor
Vigor, frescor
peregrino viajante

ego, penitência
Desapego, persistência
peregrino viajante

solidão, ilusão
Oração, compaixão
peregrino viajante

fim, Face
vim, vá-se
peregrino viajante
Michel Figueira, FRC.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Fim . . .

Acabou.


Assim começa novamente
Imagine a vida agora
de trás pra frente
caminhe sem demora

Siga o bom caminho
mesmo solitário
trate-o com carinho
Pois voltará ao contrário

Não há nada de novo
só mais um recomeço
só mais um renovo
agradeço ...


Começou.




Por termos lutado um bom combate agradecemos ao Deus Único, que nos autorizou, guiou e sustentou nessa jornada.

Feliz Ano Novo R+C a todos, principalmente aos meus amados dignos fratres e sorores.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Viver é Bom !


     Viver é bom, mas é bom viver enquanto se vive, numa postagem antiga falei sobre experiência de quase vida, fazendo analogia à EQM, de onde obtemos vários relatos incríveis de situações insólitas; um grande amigo leu essa postagem e disse que poderia ser melhor trabalhado o assunto, bem, aqui estou para tentar.
     Estabeleço como ponto de partida o fato de muitos de nós vivermos distraidamente, displicentemente, inadvertidamente como se a vida aqui nessa terra fosse eterna e direito nosso; observe quantos acidentes bobos ocasionados por falta de cuidado, falta de amor à vida, própria ou alheia; observe quantas mortes em circunstâncias banais; uma mãe que deixou o bebê de 4 meses em casa e foi ao bar, beber e conversar fiado, ela achava que a vida de seu filho seria eterna e que era seu direito "tirar o atraso da curtição" depois de tanto tempo (nove meses de gestação), um curto na tomada do ventilador põe fogo no colchão da cama de casal, o bebê que tinha seu berço a menos de um metro morre asfixiado. Uma mulher sai a noite, ao tomar seu carro, embriagada,  para retornar para casa atropela um cidadão que trabalha na calçada, bate em outro veículo estacionado, foge, fura um bloqueio da polícia, atropela um policial, e detida ainda agride o policial, encaminhada à delegacia chora copiosamente. Uma senhora idosa desloca-se de bicicleta pela contra-mão onde acaba por se chocar contra outro ciclista que vinha em sentido contrário, ambos caem, passando bem naquele momento apresso-me para ajudar, observando que ambos estavam bem achei adequado informar à senhora que ela deveria andar pelo outro lado ao que me respondeu: "Eu tenho direito de andar onde quiser!". Viver é tão bom, evitar transtornos tão simples; se essa mãe tivesse pedido que seu marido trouxesse a cerveja para que consumissem em casa, com moderação e decência; se essa cidadã tivesse pego uma táxi para voltar à sua residência; se essa idosa tivesse observado a regulamentação de transito; todos os envolvidos acreditavam estar usufruindo de seus direitos, a visão distorcida da vida urbana não apontou para eles onde estavam os direitos alheios, que foram prejudicados em todos os caos.
     Por definição uma EQV é tudo aquilo que tornou-se incompatível com a nova visão da existência adquirida por pessoas que passaram pela EQM, por algum contratempo, algum dissabor ou uma tragédia, mas há momentos onde esse despertar pra uma nova realidade advém de uma tomada de consciência mística ou cósmica, ou de uma breve iluminação. Em todos os casos o valor de um despertar desse tipo é inefável, é algo que por sua transcendência da realidade comum torna-se maior que qualquer definição possível; não haverá explicação para uma visão tão ampla assim como não há para outra tão estreita como a daquele jovem que após atropelar, mutilar e matar (ele acreditava que a vítima havia morrido) um jovem trabalhador, joga seu braço no rio, acreditando que com isso livrara-se da culpa por sua inconsequência; no entanto esse ocorrido é uma excelente definição do que chamo EQV, um jovem bem apessoado, estudante de psicologia, de família de classe média-alta, sai na noite em seu belo carro, todos os prazeres estão diante dele, e ele usufrui de todos, não há amanhã; para o outro rapaz por pouco realmente não houve; ambos vítimas da quase vida, do acreditar na pílula dourada do consumismo, da beleza física, da posse material, da classe social. Ambos descobrirão que é bom viver, viver a vida; assim como não há aquele que volte da morte para ensinar, também não haverá aquele que voltará da vida, porque viver é uma descoberta pessoal ininterrupta, vamos nós também à esta descoberta !

TFA !

domingo, 20 de janeiro de 2013

O universo curvo


"De curvas é feito todo o universo"
Albert Einstein.

          As obras de Oscar Niemeyer são mundialmente conhecidas por suas linhas, sua impressão de leveza; a frase acima, do celebre físico germano-judaico, era sempre lembrada pelo artista da leveza em concreto. Ao escutar essa frase, que confesso até pouco tempo não conhecia, me vi impelido a meditar sobre as idas e vindas de nossas almas por esse universo curvo; no último dia 23 de novembro passou pela transição um grande amigo, um sábio, um estudante e praticante dos conhecimentos arcanos, nas áreas de filosofia, teologia, misticismo, judaísmo e outras. Ele atuou, digo atuou porque além de estudar, absorvendo o conhecimentos dos antigos sábios, ele desenvolveu seus próprios conhecimentos, contribuindo assim para a construção dos saberes de vários estudantes que tiveram a grata oportunidade de conviver com ele. Quando vemos tantos sábios que por este plano já passaram, por vezes pensamos que nada podemos, como simples estudantes que somos, acrescentar mas, este é um erro crasso; todos nós temos a nossa experiencia individual, nosso próprio saber, particularmente entendo como erro não interagirmos uns com os outros dando oportunidade de que outros conheçam o saber que construímos e, claro, conhecendo o saber alheio; essa prática, de trocar conhecimentos, enriquece nosso próprio saber, aperfeiçoando-o; hoje vejo nitidamente onde aquele sábio "garoto grisalho" contribuiu para a construção do meu saber e, consequentemente, de quem sou, essa é a beleza de doar, o pouquíssimo saber que acumulei pode servir de chave para uma questão que atormentava o meu irmão e dali ele pode alçar vôos que eu mesmo jamais farei mas, nos quais terei minha parcela de participação.

Vivo minha vida 
dela tiro minhas próprias experiências,
no entanto,
nada me impede de aprender das tuas
e assim evitar suas consequências

Ser pensante sim
limitado no acanhado espaço-tempo,
no entanto,
nada me impede de pedir a tua ajuda
e aprender de seu momento

Opinião tenho sim
limitada na minha própria existência,
no entanto,
nada me impede de ouvir teu testemunho
e mudar uma sentença.
Fr Michel Figueira.

Pax