segunda-feira, 29 de julho de 2013

A cultura do excesso


      Algo que todos percebemos mas, geralmente não nos damos conta objetivamente é a influência da cultura na individualidade; neste texto quero abordar mais de perto a cultura do excesso, claramente adotada e veladamente imposta pelo modelo de mercado capitalista bem como, sua influência no indivíduo de forma holística; esse modelo prevê crescimento de lucro um período após o outro sempre, é fácil perceber essa mesma filosofia na vida do indivíduo, nosso próximo carro deve ser mais potente, confortável, bonito e, claro, caro que o anterior; nossa festa de réveillon mais incrementada, com comidas e bebidas importadas e mais farta que a do ano passado; é comum escutar alguém dizer que em determinada festa haverá a oferta de muitas caixas de cerveja, de muito churrasco e outros excessos que são imediatamente entendidos como algo desejável, porém voltemos nossa atenção para o modelo de mercado, toda produção é baseada na exploração de recurso natural em algum grau, como uma fábrica de garrafas plásticas por exemplo, ela adquire o plástico para as máquinas injetoras, no entanto, esse é produzido a partir do petróleo, um recurso natural limitado; fica claro que em algum momento haverá uma estabilização na produção por conta da escassez de matéria prima e que logo se seguirá uma queda, sabemos ainda que a industria tem outros meios de aumentar seu lucro, dentre eles a desoneração do processo produtivo pela substituição de mão de obra humana por automatizada, otimização do aproveitamento de energia e outros porém, a base da cadeia ainda é o recurso natural. Essa filosofia aplicada ao indivíduo também sofre de limites, e esses são sentidos muito mais drasticamente que no exemplo dado, no exemplo das muitas caixas de cerveja oferecidas, imaginemos quantas dessas caixas serão consumidas pela pessoa que fez o comentário. Uma pessoa apenas não consome uma única caixa! Que diferença faz então quantas serão oferecidas? Esse excesso, do consumo de álcool, todos sabemos a que consequências leva; sabemos como afeta a família, principalmente a relação entre pais e filhos; há também o outro lado da necessidade subconsciente do supérfluo, a violência, muitos furtos, roubos, e latrocínios são perpetrados para a obtenção de bens e valores que tem como única finalidade promover status, a causa disso é a percepção de que valemos o que os valores materiais que possuímos. Nesses tempos acelerados, onde movimentos revolucionários fazem alusão à paz, e movimentos pacíficos fazem alusão à revolução, Nossa atenção, inevitavelmente, volta-se para o equilíbrio, o caminho do meio; o caminho do meio não significa resignação perante a agressão gratuita, entretanto, também não significa a prática da violência cega, animalesca. Aí reside um dos maiores mistérios da vida moderna, até onde manter uma postura serena, tranquila, pacífica? Ou, quando parar de gritar, bater, reclamar, protestar?
      Tão nocivo quanto o excesso na reivindicação é o excesso na complacência, o mistério reside no método e medida da ação a ser empregada, o indivíduo sente a necessidade imposta pelo "consciente coletivo", vê-se abrigado a estar em conformidade com o pensamento e a ação de sua época, a sabedoria está em usar seu próprio livre arbítrio, ter sua própria leitura dos atos e fatos.